segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Suprematismo/Construtivismo: os russos, 1915-25 - II parte

"Última Exposição Futurista: 0,10"

Foi uma mostra coletiva realizada em Petrogrado (hoje, São Petersburgo). O título era uma mensagem anunciando o fim do futurismo italiano (antes dos dois-pontos) e o início de uma nova fase na arte moderna (0,10) no outro lado. O título 0,10 foi ideia de Malevich.
Dez= era o número de artistas que iriam participar, no fim, foram quatorze.
Zero= eles não estavam representando nada.
Vladimir Tatlin (1885-1953) - abominava a visão de Malevich
Os Contrarrelevos de canto, feitos por Tatlin em 1914-15, ainda parecem modernos.
  • Reuniu os seguintes materiais: vidro, ferro e aço.
  • Nessa obra queria chamar a atenção para a textura da construção da obra de arte, a natureza e o volume dos materiais e o espaço que eles ocupavam.
  • Não objetividade: objetos no espaço, desafio à gravidade, textura, peso, tensão, cor e equilíbrio.
  • Reinventou a noção de escultura.
Vladimir Tatlin, Contrarrelevo de canto, 1914-15.
Imagens que lembram os Contrarrelevos de canto:
Museu Guggenheim em Bilbao

viaduto Millau projetado por Norman Foster
E também, em algumas obras de arte:
Barbara Hepworth, Stringed Figure (curlew), 1956

Dan Flavin, Core at the menil collection's Richmond hall

Carl André, Equivalent VIII, 1966
Essa mostra foi muito importante, pois lançou no mundo o suprematismo de Malevich e o construtivismo de Tatlin, embora o movimento de Tatlin só tenha sido oficialmente batizado e lançado como tal em 1921 no Manifesto construtivista. Mas o termo construtivista existia desde cerca de 1917, quando o maldoso Malevich referiu-se a ele de maneira depreciativa como sendo "arte de construção".
Lênin, líder da nova Rússia soviética, declarou que a arte deveria ter um objetivo, servindo às necessidades das pessoas e do regime. Portanto, a tarefa dos artistas era criar uma identidade visual para o comunismo.
As artistas femininas ocuparam posições de destaque no âmago do movimento. São elas: Lyubov Popova (1889-1924), Varvara Stepanova (1894-1958) e Aleksandra Ekster (1882-1949).  

Em 1919 foi dito que "o artista é agora simplesmente um construtor e técnico, um líder e capataz".
A tela, a tinta, a moldura de madeira a que a tela é presa, tudo isso teve seu status elevado como parte de uma obra de arte construída.
A união de materiais e da tecnologia despertou o interesse em muitos artistas pela arquitetura. Tatlin projetou uma construção, nunca realizada, chamada Monumento à Terceira Internacional (Torre de Tatlin). Esse projeto iniciou em 1919 e foi concluído em 1921. Uma estrutura que se fosse construída teria quatrocentos metros de altura, e feita de ferro, vidro e aço.
Vladimir Tatlin, Monumento à Terceira Internacional (Torre), 1919-20.
"5x5= 25"
Essa foi outra mostra feita em 1921, em Moscou. Consistiu em cinco obras de arte da autoria de cinco artistas construtivistas. São eles  Aleksandra Ekster, Lyubov Popova, Alexander Rodchenko, Varvara Stepanova e Alexander Vesnin.

Rodchenko expôs um tríptico intitulado Cor vermelha pura, Cor azul pura e Cor amarela pura (1921), que tem o título coletivo A última pintura ou A morte da pintura.


São três telas monocromáticas - telas pintadas com uma única cor. Era, como disse Rodchenko, o que acontece quando "reduzíamos a pintura à sua conclusão lógica". "Afirmei", declarou ele, "que cada plano é um plano e não deve haver nenhuma representação. Tudo terminou." Sua descrição da obra estava correta; a conclusão não poderia ser mais equivocada.

Os suprematistas diziam que suas pinturas continham um sentido oculto e verdades universais. Ao contrário dos suprematistas, Rodchenko dizia que suas pinturas eram parte de sua pesquisa sobre as qualidades dos materiais. E essa tinha como objetivo a construção de produtos.

Em 1921 Rodchenko anunciou oficialmente o surgimento dos construtivistas com um manifesto. Quase imediatamente depois, produziu um outro manifesto pronunciando a "morte da arte", classificada de "burguesa". Dali em diante eles deveriam ser conhecidos como produtivistas. O construtivismo e o produtivismo eram movimentos nos quais a arte era aplicada ao design utilitário.

Atendendo ao pedido de Lênin, os artistas deveriam ampliar sua contribuição à sociedade. Eis aqui algumas imagens:

Lyubov Popova desenhou alguns vestidos.

desenhos de vestidos de Lyubov Popova.

O cartaz de Alexander Rodchenko serviu como inspiração para o projeto gráfico da capa da banda Franz Ferdinand. A capa You Can Have It So Much Better (2005), apresenta uma apropriação da imagem criada pelo artista Alexander Rodchenko, em 1924, da musa da vanguarda russa Lilya Brik.

Rodchenko, retrato de Lilya Brik (1924).

Rodchenko, Cartaz (utilizando o retrato de Lilya Brik), 1924.
capa do álbum da banda Franz Ferdinand


O cartaz sobre a Guerra Civil Russa feito por El Lissitzky (1890-1941), em apoio à causa bolchevique. Derrote os brancos com a cunha vermelha (1919). Extremamente simbólico e representacional.

El Lissitzky, Derrote os brancos com a cunha vermelha (1919).

Outras imagens com o uso da estética suprematista e construtivista:

capas da banda escocesa Franz Ferdinand com inspiração Rodchenko/Lissitzky.

Para a capa do single This fire foi utilizada como inspiração a obra de El Lissitzky.

capa do álbum The Man-Machine de Kraftwerk. Estética suprematista e construtivista





Os artistas russos foram capazes de reduzir tudo a nada de modo a expor mais do que sabíamos estar lá. É uma questão de equilíbrio e óptica, tensão e textura. Mais do que isso, porém, é uma questão do inconsciente. Malevich, Tatlin, Rodchenko, Popova e Lissitzky foram visionários brilhantes, os pioneiros da primeira arte totalmente abstrata.

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