terça-feira, 7 de outubro de 2014

Surrealismo: 1924-45 (Parte I)

Guillaume Apollinaire, poeta francês, inventou a palavra em 1917. Ele a usou duas vezes no mesmo ano: uma delas com relação à sua peça Les Mamelles de Tirésias (1917), que descreveu como um "drama surréaliste" ; e a outra  chamada Parede (ballet). Apollinaire morreu de gripe espanhola em 1918.
 
Em homenagem a Guillaume Apollinaire, André Breton em seu Primeiro Manifesto (1924), batizou o novo modo de expressão de Surrealismo. O novo movimento associa a criação artística ao automatismo psíquico puro. Dessa associação resultou que as obras criadas nada devem à razão, à moral ou à própria preocupação estética. Portanto, para os surrealistas, a obra de arte não é o resultado de manifestações racionais e lógicas do consciente. Ao contrário, são manifestações absurdas e ilógicas, como as imagens dos sonhos e da escrita "automática" (fluxo de consciência/espontânea).
 
A escrita automática procura buscar o impulso criativo artístico através do acaso e do fluxo de consciência despejado sobre a obra. Procura-se escrever no momento, sem planejamento, de preferência como uma atividade coletiva que vai se completando. Uma pessoa escreve algo num papel e outra completa, mas não de maneira lógica, passando a outra que dá sequência.
 
A ideia era explorar a mente inconsciente no intuito de trazer à tona segredos indecorosos reprimidos em benefício da decência. Uma vez que eles tivessem sido revelados, o plano era pôr a realidade "racional" ao lado dessa versão da "realidade" em tudo e por tudo mais detestável. A subversão - esperava-se - conduziria à desorientação em massa provocada pelo pensamento, palavras e atos antirracionais dos surrealistas.
 
Salvador Dalí
 
 
 
Em A persistência da memória (abaixo)(1931), Dalí cria um mundo irracional totalmente autônomo e convincente - onírico e inerte - que se torna ainda mais intenso graças à dimensão diminuta da tela (24 x 33 centímetros). A obra começa como uma pintura de paisagem habitual que mostra o mar Mediterrâneo e faces de penhasco ao largo da costa noroeste da Espanha, perto da cidade natal do artista. Mas depois uma sombra escura assoma sobre a costa, projetando uma presença ameaçadora como um vírus moral. Um exército de formigas pretas apinha-se sobre a carcaça de um relógio menor, enquanto um outro escorrega sobre uma criatura molenga verdadeiramente grotesca. Esse é Dalí. Ou, pelo menos, uma aproximação do rosto do artista quando visto de perfil. Ele também foi envolvido pela sombra sufocante da morte, que o deixou flácido, sem vida e repugnante enquanto suas vísceras de esvaem pelas narinas.  


Dalí estava fascinado pela Teoria geral da relatividade, de Einstein, publicada em 1920, que descreve como o tempo se curva sob o impacto da gravidade. Para Dalí era lógico perguntar: "Se o próprio tempo se curva, por que não os relógios?". Sua pintura também sugere um tema mais antigo e familiar, a inevitabilidade da morte, pois, embora tenham parado em momentos diferentes, todos os relógios apontam para a hora que se aproxima ; a morte espera cada um de nós individualmente.
 
Sua busca no surrealismo era "sistematizar a confusão e assim ajudar a desacreditar o mundo da realidade" por meio da pintura de "paisagens oníricas". Seu objetivo era fazer "fotografias de sonhos pintadas a mão".

Rapariga de pé à janela, 1925. Salvador Dali.

 
 
 
 
Telefone-Lagosta, 1936. Salvador Dali.
 
Mae West Lips Sofa, 1936-37. Salvador Dali.
 
 
Galateia de Esferas, 1952. Salvador Dali.
 
 
 
 
Natureza-Morta Viva, 1956. Salvador Dali.
 
 
 
 
Suas esculturas eram como colagens tridimensionais. Ele aplicava o conceito de ready-made de Marcel Duchamp combinando e rotulando como arte objetos banais desconexos e levemente modificados. 

Com o compatriota e cineasta de vanguarda Luis Bruñuel, Dalí trabalhou em uma série de projetos que se tornaram os primeiros filmes surrealistas.
 
Cão Andaluz (1929)
Em preto e branco e tem uns 15 minutos, confere aqui:https://www.youtube.com/watch?v=YJCcLbtSD6o
 
A idade do ouro (1930)
 
Na década de 1940, quando morava nos Estados Unidos, Dalí trabalhou ao lado de Alfred Hitchcock no filme Quando fala o coração (1945).