quarta-feira, 19 de maio de 2021

Minimalismo: Sem Título, 1960-75 (Parte I)

 Todos nós as vimos, estivemos em sua presença: aquelas de tipo calado, pensativo. Você sabe, aquelas que têm a força interior do Kevlar, que nunca sentem necessidade de se exibir ou de comprometer princípios sólidos, e têm uma certa aura que impõe respeito. Em minha experiência elas nunca são berrantes, sempre se apresentam bem e têm um estilo discreto que transforma todos à sua volta em idiotas tagarelas. Têm uma qualidade ligeiramente fria, indefinível.

Estou falando, é claro, sobre as esculturas minimalistas. Aqueles cubos e retângulos tridimensionais de bordas retas, implacavelmente austeros, feitos de materiais industriais, pousados no meio do assoalho de uma galeria, ou de uma parede, dominando o espaço e a nós. Elas são um produto dos anos 1960. Como as passeatas estudantis e o amor livre. Com a diferença de que essas concisas obras de arte estão mais ligadas à contemplação reflexiva do que ao despertar de emoções. Elas têm uma impassibilidade que era a antítese de toda a frivolidade e a conversa vazia que tinham lugar no mundo à sua volta.

O minimalismo é o produto de muitas influências, que vão desde a Pennsylvanian Railway até o surrealismo de André Breton. Há muito da fria estética modernista da Bauhaus na mistura minimalista, bem como uma boa dose de construtivismo russo. E apesar de toda a sua aparente passividade, essas esculturas têm na realidade uma estreita relação com a arte performática, com você, o espectador, fazendo o papel do performer. Porque na mente dos artistas envolvidos, suas despojadas obras de arte só estavam verdadeiramente "ativas" ou vivas quando nós, a plateia, estávamos na sala. Só então suas esculturas podiam desempenhar a tarefa para a qual haviam sido criadas: afetar o espaço em que se situam, e, de maneira decisiva, as pessoas dentro dele. Não se tratava de simplesmente admirarmos sua elegância angulosa: tínhamos de reconhecer como sua presença nos transformava, a nós e ao espaço em que estávamos.

É com algum temor que uso a palavra "escultura" para descrever as obras minimalistas tridimensionais, pois em geral este termo foi banido pelos artistas envolvidos em razão de sua associação com a arte da ilusão. Era isso, a seus olhos, que era a escultura tradicional, pela qual matérias-primas são manipuladas para parecer alguma outra coisa (por exemplo, um pedaço de mármore moldado na forma de uma figura humana). Isso era uma abominação para os minimalistas, uma turma literal. Se faziam um objeto com madeira, aço ou plástico, então era isso que ele era, um objeto de madeira, aço ou plástico, nada além disso. Eles sugeriram várias palavras alternativas que lhes pareciam descrever melhor suas criações. Uma das primeiras favoritas foi "objetos". Bastante razoável, mas pouco descritiva; afinal, toda escultura é um objeto. As duas sugestões seguintes sofriam do mesmo problema: eram excessivamente literais. A primeira era "obra tridimensional" e a segunda, "estrutura". Por fim (sem dúvida em desespero), ofereceu-se "proposta". Além de ser uma palavra bastante humilde, especulativa em qualquer circunstância, era completamente sem sentido quando se estava apresentando um cubo de metal com 2,5 metros quadrados de lado. Isso não é uma proposta; é uma afirmação. Assim, por conveniência, vou contrariar os desejos deles e incluir todas as criações espaciais minimalistas descritas neste capítulo na mesma categoria: esculturas.

De certa maneira, a arte produzida pelos minimalistas não difere de nenhuma arte produzida em qualquer outro tempo. Arte é sempre, em certa medida, uma tentativa de criar ordem a partir do caos. Ela pode envolver os princípios metódicos de organização dos sistemas de grade de De Stijl, ou os planos chatos encadeados do cubismo. Até o niilismo anárquico do dadaísmo pretendia livrar o mundo da deterioração e da decadência para permitir que a ordem de um novo mundo fosse estabelecida. O objetivo é sempre o mesmo: pôr a vida sob controle. No caso dos minimalistas, o desejo de pôr a vida em ordem foi simplesmente um pouquinho mais intenso que o dos movimentos artísticos precedentes. O elenco é todo norte-americano, todo do sexo masculino e todo branco, e poderíamos dizer que isso, em sua regularidade, rigidez e natureza redutiva, é bastante minimalista.

Trata-se principalmente de mais um dos clubes de cavalheiros da arte moderna, o que neste caso não é difícil detectar quando examinamos a arte associada ao movimento, obviamente masculina. Os artistas envolvidos tinham predileção por obras de arte severas, dotadas de uma fria qualidade mecânica e executadas com uma atenção obsessiva ao detalhe. No entanto, a mão e a presença do artista são quase imperceptíveis. Eles são distantes, sua arte sendo com frequência montada como um produto industrial. Quando os minimalistas faziam esculturas - o que ocorria na maior parte do tempo -, as peças que produziam não tinham nada do romance associado ao esforço humano necessário para entalhar um bloco de pedra. Sua mãos não sangravam nem sua testa suava. Talvez as de alguma outra pessoa o fizessem - aquela incumbida de soldar, aparafusar ou instalar sua obra -, mas não as dos artistas.

Eles operavam mais à maneira dos arquitetos: desenhando projetos, dando ordens e supervisionando a produção. Não há nada de errado nisso; o grande mestre flamengo Peter Paul Rubens tinha um grande número de assistentes fazendo suas pinturas para ele. Mas essa ajuda era para aumentar a produtividade (prova de que a mistura de artista e homem de negócios não é uma criação de Warhol, Koons, Hirst), e por isso ensinava sua equipe a imitar seu estilo. Os minimalistas estavam tentando fazer o oposto. Como os artistas pop norte-americanos, eles queriam eliminar todas as evidências de si mesmos, livrar sua obra de qualquer traço de expressão pessoal, subjetividade ou autoria.

Seu objetivo era compelir o espectador a lidar com o objeto físico que tinha diante de si sem ser desviado pela personalidade do criador. Alguns, como Donald Judd (1928-94), chegaram a parar de dar títulos às suas obras, pois poderiam distrair a atenção do espectador. Assim, vemo-nos diante de vastas quantidades de obras de Judd com o mesmo nome, Sem título, em geral apenas com a data em que o trabalho foi feito como guia para estreitar qualquer busca. Isso pode parecer estúpido, mas Judd, como os outros minimalistas, acreditava em remover todo detalhe irrelevante, dizendo: "Quanto mais elementos uma coisa tem, mais sua ordenação torna-se o ponto central da obra e portanto desvia da forma".

Judd emergiu como artista pintando grandes quadros expressionistas abstratos em que muitas vezes sobressaía uma intensa cor de sangue chamada vermelho-cádmio. No devido tempo ele abandonaria o expressionismo abstrato e o cavalete, mas nunca deixaria de usar o vermelho-cádmio. Sua razão para se afastar da tela baseou-se na filosofia minimalista. O problema com a pintura de quadros, a seu ver, era a incapacidade do espectador de ver uma tela e a imagem nela pintada como uma só entidade. Quando olhamos para uma pintura- mesmo que seja uma obra abstrata monocromática sem relevo - pensamos somente na imagem. Não pensamos naquilo sobre o que ela foi pintada. Por que o faríamos? Não é isso que interessa. Mas quando vestimos uma camisa de manhã, ou nos secamos com uma toalha, pensamos no material e no que porventura esteja estampado nele como uma propriedade integrada. E era essa noção de "unicidade" ou "integridade" que Judd buscava para unificar sua arte como um objeto único, abrangente. Ele encontrou sua resposta na escultura.

Sem título (1972) é uma caixa de cobre aberta, polida, com pouco menos de um metro de altura e pouco mais de um metro e meio de largura. Judd pintou o lado interno da base com um esmalte de sua cor favorita, vermelho-cádmio. E, bem...só isso. Sem título não simboliza nada e não sugere nada. É uma caixa de cobre com uma base vermelho-cádmio. Por outro lado, é uma obra de arte. Mas afinal qual é seu propósito? A resposta é: apenas ser vista, apreciada e julgada puramente em seus termos estéticos e materiais - a aparência que tem e o que nos faz sentir. Não há nenhuma exigência de "interpretar" a obra - não há nenhum sentido oculto a buscar. O que, a meu ver, a torna sem dúvida libertadora. Dessa vez não se requer nenhum truque ou conhecimento especializado, há apenas uma decisão a tomar: você gosta dela ou não? Eu gosto.

                                    Sem Título, 1972, Donald Judd. Tate Gallery, Londres.


Acho fascinante sua simplicidade, a superfície texturizada da caixa de cobre quente e ressonante, os ângulos fortes de seu contorno dividindo com elegância o espaço circundante com precisão de laser. Ande em direção à caixa de cobre e você verá um vapor vulcânico vermelho elevando-se como neblina de seu topo aberto - enfatizando o contorno nítido da caixa. Se você se debruçar sobre ele e examinar seu vazio, verá que o efeito de neblina criado pelo vermelho-cádmio encheu o volume com uma luz nebulosa, como um tardio pôr do sol de verão. As paredes internas de cobre parecem ter sido mergulhadas em vinho tinto. E é assim que você se sentirá após contemplar seu interior reflexivo por algum tempo, pois a princípio você vê dois cubos, depois três, e por fim um corredor deles à medida que a superfície reluzente do cobre opera sua mágica ótica.

Nesse momento você provavelmente recuará e fará um exame apropriado da maneira como a caixa foi feita (por técnicos, segundo as especificações de Judd). E verá todas as pequenas imperfeições, a textura encaroçada do cobre, as amolgaduras e os arranhões. A maneira como os lados não se alinham perfeitamente e como uns dois parafusos ficaram enterrados demais. Essas são as imperfeições da vida, que não podem ser escondidas por mais que nos esforcemos. Recue e ande em volta da caixa, e você ficará pasmo com a maneira como o cobre intensifica sua percepção das mudanças na luz ambiente, a qual por sua vez aumenta a sensibilidade a todo o seu ambiente físico. Depois, ao se afastar para olhar alguma outra coisa - e isso eu garanto -, você dará uma última olhada antes de ir embora. E sempre se lembrará de ter visto a caixa de cobre de Donald Judd, porque ela é simplesmente bela.

Judd resistiu a qualquer coisa que pudesse interferir na natureza dos materiais, ou reduzir o caráter puramente visual da experiência do espectador. O que essa obra faz, o que todas as esculturas de Judd fazem em maior ou menor medida, é forçar o espectador a entrar no tempo presente. Não há nenhuma distração. Judd pensava que toda a ideia de artistas explorando a noção de acaso havia sido plenamente realizada por Pollock, com seus borrões fortuitos. Parecia-lhe óbvio que "o mundo é 90% acaso e acidente"". Esse era seu ponto de partida. Essa era a razão por que havia simplificado seu trabalho: eliminar o acaso.

Ele se ariscou, porém, com suas "peças pilha" , como o trabalho de 1967 Sem Título (Pilha), que parece uma dúzia de prateleiras não sustentadas que se projetam da parede uma sobre a outra. Fazer uma escultura fragmentada quando se tem o objetivo primordial de apresentar um objeto único isento de complicações é arriscado. Mas o artista executa isso com firmeza. Cada prateleira, ou degrau, é feita de ferro galvanizado e coberta de tinta industrial verde. As doze unidades, todas feitas numa oficina siderúrgica em Nova Jersey, são idênticas. Judd não poderia estar indo mais longe para se afastar dos grandes gestos pictóricos dos expressionistas abstratos.

Ele estava reagindo contra o mito romântico segundo o qual o movimento impetuoso do pincel de um artista podia comunicar de alguma maneira uma verdade interior mística. Judd era um arquirracionalista. Estava usando a repetição para solapar a ideia de que absolutamente todos os movimentos pictóricos são de alguma maneira significativos e notáveis. Isso, ele pensava, só podia ser encontrado na unidade abstrata. Com Sem Título ( Pilha), Judd conseguiu fazer com que doze elementos individuais parecessem uma só coisa. Na verdade, há 23 diferentes elementos. Há os doze degraus e os onze espaços entre eles. Cada um dos degraus tem 22,8 centímetros de profundidade e todos estão a 22,8 centímetros de distância um do outro. Diferentemente do que ocorre na escultura tradicional, não há nenhuma hierarquia nessa obra; o degrau inferior (o plinto) tem o mesmo valor que o de cima ( a coroa de glória). A coesão de todas as coisas - e nisso reside o brilhantismo de Judd - é assegurada por algo invisível. Ele chamou isso de polarização; eu chamaria de tensão.


                                                Sem título (Pilha). Donald Judd. MoMA.

Uma ideia semelhante pode ser encontrada nas pinturas de Frank Stella. Ele era quase uma década mais jovem de Donald Judd, mas havia seguido uma trajetória semelhante, começando como expressionista abstrato, e compartilhava muitas das frustrações de Judd com relação às limitações da arte de seu tempo. Aos 23 anos, Stella havia optado por uma versão enxuta do expressionismo abstrato, em que se firmaria como um grande artista. Dorothy Canning, uma curadora extremamente respeitada do MoMA, havia notado as Pinturas pretas do jovem Frank num ateliê em Nova York em 1959 e se encantara com sua simplicidade e originalidade.

Uma delas, intitulada O casamento da razão e da esqualidez, II (1959), consistia em duas imagens em preto e branco idênticas postas lado a lado. No meio de cada imagem, uma fina linha de tela não pintada corria pelos dois terços inferiores da pintura, fornecendo seu ponto central. Em volta dela, na forma de uma moldura de porta (ou de uma letra U de cabeça para baixo), Stella havia pintado uma grossa linha preta. Em seguida repetira esse processo, expandindo a imagem de maneira concêntrica: uma grossa linha preta pintada na forma de uma moldura de porta, seguida por uma fina área de tela em branco que corria em torno da forma pintada. O resultado foi um padrão que lembrava um terno risca de giz.


                                    O casamento da razão e da esqualidez, II (1959). Frank Stella. MoMA.

Canning decidiu incluir o trabalho de Stella numa exposição que planejava montar no museu para exibir tendências emergentes na vanguarda norte-americana. Junto com suas pinturas, ela incluíra Combinações, de Rauschenberg, e Alvos e bandeiras, de Jasper Johns ( que tinham sido uma inspiração para Stella), bem como o trabalho de vários outros artistas. A exposição Dezesseis Americanos (MoMA, dezembro de 1959 a fevereiro de 1960) iria se tornar parte do folclore da arte mundial, vista como o momento em que a arte moderna escapou do domínio das pinturas emocionais dos primeiros expressionistas abstratos. Os críticos não se mostraram muito entusiasmados, em particular com relação às pinturas de Stella, descritas por um deles como "inexprimivelmente enfadonhas". Não foi essa a opinião de Judd. Ele sabia exatamente o que Stella estava tentando fazer porque procurava fazer o mesmo com a escultura. Era uma literalidade, uma clareza; ou, como disse Stella: O que você vê é o que você vê. A solução de Judd foi reduzir os elementos: simplificar. A de Stella foi "simetria - tornar a coisa toda igual". Era uma abordagem minimalista.

Stella, como Judd, queria erradicar todo componente de ilusão de suas pinturas. Fez isso tanto em preto e branco quanto em cores, com obras como Hyena Stomp (1962). Ele usou onze cores (tons de amarelo, vermelho, verde e azul), aplicadas sequencialmente num padrão labiríntico, que espirala a partir do centro até um ponto final no canto direito superior que perturba sutilmente a simetria da composição. A tela mostra Stella brincando com a ideia de sincopação, em que o ritmo escapa inesperadamente de sua própria uniformidade. Com o nome de uma faixa do músico de jazz Jelly Roll Morton  https://www.youtube.com/watch?v=pntzw3G-ZCw , na qual foi inspirada, ela demonstra também quanto Stella havia se afastado das origens do expressionismo abstrato. Embora suas pinturas sejam inteiramente abstratas e expressivas, são claramente premeditadas. Pollock acreditava em deixar o inconsciente aflorar com ímpeto e na adesão ao automatismo dos surrealistas, Stella estava mais próximo da arte conceitual. Ela não fazia nada sem planejamento e uma boa dose de pensamento racional. A seu ver, era realmente o pensamento que contava; a pintura podia ser feita por qualquer um. O impacto causado por Stella sobre o minimalismo foi considerável. Ele forneceu estímulo intelectual a Judd e fez para o escultor Carl Andre(1935) um comentário que mudou a vida do artista.
                                  Frank Stella. Hyena Stomp (1962). Tate Gallery, Londres.



quinta-feira, 3 de março de 2016

Primitivismo 1880-1930/Fauvismo, 1905-10: Grito primal

Gauguin foi um dos primeiros a adotar o primitivismo.

Era uma proposta de retorno ao essencial que pautou também o movimento decorativo internacional fin-de-siècle. Conhecido como art noveau (França).

Art noveau - produtos curvilíneos e que evocam a simplicidade dos motivos da natureza.

Gustav Klimt (1862-1918) - associado ao movimento. Tem o ar místico do movimento.

Na Paris, fin-de-siècle, os totens entalhados alcançavam uma simplicidade que já não era acessível aos jovens artistas.

O artista Maurice de Vlaminck viu 3 máscaras africanas em um café em Argenteuil, em um subúrbio a noroeste de Paris, em 1905, e acabou comprando. Henri Matisse e André Derain ficaram impressionados. 

Em Barcos no porto de Collioure (1905). Andre Derain. - abaixo. 



O porto é quente, rústico, sem complicações e pitoresco. Revelou a essência de um tema.

Restaurant de la Machine à Bougival (c.1905)(abaixo). Vlaminck.



Cor ao máximo.

As pinturas foram recusadas pelo Salão em 1903.

O crítico Louis Vauxcelles disse que o trabalho era de Le fauves (as feras).
As experiências artísticas os levaram a desenvolver uma paleta que parecia descontrolada e indomada.

Mulher com chapéu (1905). Henri Matisse. (abaixo)



Causou transtorno no Salon d'Automme (1905). Até os impressionistas e os pós-impressionistas teriam feito objeção ao retrato de Matisse. A paleta era muito ousada, e outro fator era o tema utilizado: a sua mulher. 

A alegria de viver (1905-06) . Henri Matisse. 


Era a quintessência da pintura fauvista cuja cena era pastoral. E deleites hedonistas.

Pablo Picasso, em 1906, residia na cidade.  Picasso pintou Retrato de Gertrude Stein (1905-06)(abaixo) 



"concerto formal" 

Também do Pablo Picasso: Les demoiselles d'Avignon (1907)(abaixo)

Em 1886, Henri Rousseau resolveu expor no Salão dos Independentes em uma exposição sem júri. Foi a piada da exposição.

Uma noite de carnaval (1886)(abaixo).


Foi execrada. Composição plana e desajeitada. A ingenuidade é característico em seu trabalho.

Picasso comprou o quadro.

Rousseau foi o seu mestre.

O primitivismo na escultura

Rousseau morreu em 1910.

Constantin Brancusi (1876-1957) - romeno chegou a capital francesa em 1904.

Auguste Rodin (1840-1917) 

Entalhava em pedra ou madeira.

O beijo de Brancusi (1907-08)



Muito mais moderna e mais arcaica.
Ele entalhou em uma pedra (30cm quadrados) a forma de um casal. 

Era Paris na primeira década do século XX. Pedra e não bronze, entalhe "direto" sem refinamento , e não há uma beleza acetinada, e, para culminar, um casal comum se beijando.

Musa adormecida (1909-10). Constantin Brancusi. (abaixo)



Entalhou no mármore.

Amadeo Modigliani (1884-1920). Entalhou cabeças no calcário. Admirava Brancusi.

Em 2010, Cabeça Modigliani (1910 e 1912), foi vendida por 52,6 milhões de dólares.

Homem caminhando I (1960). Alberto Giacometti.



Parece consumido pelo pavor em linha vertical. Está "preso" no mundo moderno, privado de esperança  e envolto apenas por um difuso ar de desolação.

Em 1927, Giacometti fez Mulher-colher. 



Bronze. Referências às colheres tribais dos dan.

Na Inglaterra, a escultora Barbara Hepworth (1903-75) estava impressionada com o pré-histórico e o primitivismo.
Fez amizade com Henry Moore (1898-1986). Pedras grandes e ásperas iriam pautar seu trabalho.

Em 1931, Hepworth fez uma escultura abstrata de um alabastro. Forma perfurada (abaixo).




Suas obras, lisas e arredondadas, punham em evidência o material da escultura e o espaço em torno ( e através) delas.

Pelagos (1946). Barbara Hepworth.


Abstrata. Harmônica e bela.

Em 1961, produziu Forma única (1961-64).


Bronze. 6,5 metros. Produção em frente ao edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Picasso, Matisse, Rousseau, Brancusi, Modigliani, Giacometti, Moore, e muitos outros, sucumbiram o feitiço da arte tribal e antiga.








Cezanne: o pai de todos nós, 1839-1906

Encantou-se por Aix-en- Provence, no sul da França.

Acredita que foi a câmera que induziu muitos dos artistas de hoje a abandonar a arte figurativa.

A pintura de uma paisagem, um retrato ou uma natureza-morta pode parecer um momento imortalizado numa única imagem, mas é de fato a culminação de dias, semanas e, no caso de muitos artistas, de anos de contemplação de um único tema.

Fez parte do impressionismo (1874). Fez pinturas que representavam um tema visto de 2 ângulos diferentes  (de lado e de frente, por exemplo).

Natureza morta com maçãs e pêssegos (1905)- abaixo. O tampo foi inclinado num ângulo de 20º, em direção ao espectador.



Aumentava a quantidade de informação visual fornecida em detrimento da ilusão de espaço tridimensional.

Aplicava manchas de cor quentes e frias que se justapunham.

Como seus companheiros pós-impressionistas, Cézanne havia chegado finalmente a um impasse com o impressionismo. Seurat fora adiante porque ansiava por disciplina e estrutura. Van Gogh e Gauguin se desprenderam por se sentirem restringidos pela insistência na pintura de uma realidade objetiva. Cézanne, por outro lado, pensava que os impressionistas não estavam sendo suficientemente objetivos. A seu ver, faltava-lhes rigor em busca de realismo. Suas preocupações diferiam das de Degas e Seurat, segundo as quais as pinturas de Monet, Renoir, Morisot e Pissarro eram ligeiramente superficiais, faltando-lhes estrutura e uma impressão de solidez. Seurat, como sabemos, voltou-se para a ciência em busca de ajuda para resolver a questão; Cézanne voltou-se para a natureza.

Cézanne sentava-se diante de uma montanha ou do mar em sua Provença natal e pintava o que via.

Expressava o seu sentimento por meio de desenho e cor.

Havia solucionado alguns problemas de representação que precisa de nossa percepção visual com sua técnica de perspectiva dual, suas composições harmoniosas e o realce que dava a elementos específicos, subjetivamente escolhidos. 

Tratava a natureza por meio do cilindro, da esfera e do cone.

Busca da "harmonia da natureza". Não tinha perspectiva.

Suas ideias de estruturas eram semelhantes a grades e de simplificações dos detalhes em formas geométricas, e que podem ser vistas na arquitetura de Le Corbusier, nos projetos angulares da Bahaus e na arte de Piet Mondrian.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Arte agora: Fama e fortuna, 1988-2008-hoje

Os anos 1960 viram o fim da idade da deferência, ao passo que o movimento punk dos anos 1970 pôs um sorriso desdenhoso nas faces de uma juventude recém-fortalecida. Mas foi só no final dos anos 1980 que certas convenções foram ruidosamente contestadas. Até essa época, representações de sexo sem disfarces e violência extrema ainda estavam restritas à prateleira de cima e aos filmes pornográficos; qualquer outra menção a eles era feita por meio de alusão e insinuação.



                                                   Jeff Koons, Made in Heaven (1989)


               Anatomias trágicas (1996) - Dinos Chapman, n.1962, Jake Chapman, n.1966
                                                       
Ou seja, bonecos semelhantes a ogros grotescos e sexualmente deformados.
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1ª Exposição: Freeze
Onde: Armazém em Docklands, Bairro no sudoeste de Londres, em julho de 1988.
Artistas: Gary Hume (n.1962), Michael Landy (n.1963), Angus Fairhurst (1966-2008) e Sarah Lucas (n.1962), Damien Hirst
Grupo conhecido como "Young British Artists"

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2ª Exposição Beautiful inside my head forever
Local: casa de leilão Sotheby's (salão de vendas) - Londres
Início na 2ª feira, 15 de setembro, e encerrou-se na 3ª feira, dia 16 de 2008. 

Quebrariam as regras, desprezariam a autoridade e usariam qualquer oportunidade que tivessem para dar uma banana ao mundo.



                                              A Thousand Years (1990) - Damien Hirst.

Uma obra mórbida e afirmadora da vida. O site do artista é esse aqui: http://www.damienhirst.com/, para quem ficou super interessado nas outras obras do artista.

O assunto - vida e morte, nascimento e declínio - é tão antigo quanto a própria arte. 

A atitude de Damien Hirst é empresarial, uma mentalidade positiva, destemida, "farei como bem entender".

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O que: O conjunto de trabalhos dos Young British Artists  do colecionador de arte Charles Saatchi
Nome da exposição: Sensation
Por quem: Royal Academy em Piccadilly, Londres

Vamos aos artistas e respectivas obras!


      A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo" (1991). Damien Hirst.

Sim, é um tubarão em uma caixa de vidro cheia de formol.


                                                  Self (1991). Mark Quinn (n.1964)



                                                     Myra (1995). Marcus Harvey (n.1963)

Uma pequena curiosidade: Myra Hindley, foi a assassina de crianças britânicas, e a obra fora executada com o uso das impressões das palmas das mãos de crianças.


             É claro, Damien Hirst estava presente com sua série História natural. Abaixo, outra peça dele intitulada Pelo Amor de Deus de 2007, que ficou de fora dessa exposição.


Sim, são diamantes.

Outro artista que não poderia faltar: Sarah Lucas.


                                       Dois ovos fritos e um kebab (1992). Sarah Lucas.

Perceberam? Há uma foto da composição sobre a mesa. Fotografia da mesa. Ou será um rosto?



                                                  Au naturel (1994). Sarah Lucas.

As esculturas de Lucas podem ser tomadas como piadas pueris ou como comentários profundos sobre a maneira como a sociedade vê e retrata a mulher e o sexo. O fato é que a "cultura ladette" estava assolando a Grã- Bretanha.

# ladette é a jovem que se comporta de maneira confiante e agitada, bebe e gosta de esportes e atividades tradicionalmente apreciadas por homens.

A "Dreary England" transformou-se na "Cool Britannia", e as ladettes brindavam a isso.

Outra artista da exposição e amiga de Sarah: Tracey Emin (n.1963).



                                      Todas as pessoas com quem já dormi, 1963-1995. (1995)

Em 1993, Sarah e Tracey decidiram abrir uma loja chamada "The Shop". Os slogans das camisetas eram esses: "Complete Arsehole", "Sperm Counts", "I'm so fucky".

Galeria: White Cube
Localização: West End de Londres
Inauguração: 1993
Exposição: Tracey Emin: Minha grande retrospectiva 1963-1993.
Por quem? Jay Jopling
O que? mais de cem objetos - de diários de adolescente a Hotel International (1993)



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O que? marchand norte-americano
Nome: Larry Gagosian - o "Big Daddy" do comércio de arte contemporânea
Galerias: Nova York, Beverly Hills, Paris, Londres, Hong Kong, Roma e Genebra.
* Marchand de Damien Hirst, Jeff Koons e Takashi Murakami (n.1962).

Murakami é o rei do Kitsch. É sampler da cultura visual pop japonesa.

"Creio que cada artista deveria ter em si uma forte emoção para criar trabalhos que tenham energia".















sábado, 4 de abril de 2015

Conceitualismo/Fluxus/Arte Povera/Arte performática: Jogos Mentais, 1952 em diante

Cildo Meireles, Volátil (1980-94).


Consiste em uma sala cheia de pó de talco.
O espectador abre uma porta e adentra numa sala escura e coberta com uma camada espessa de talco. Os seus pés afundam. A porta se fecha. Tateando as paredes desta sala, ele encontra uma porta.
Ao abrir esta porta, ele adentra numa nova câmara – um corredor com aproximadamente 14 metros de extensão -, tão escura quanto a anterior. Um cheiro de gás, como o utilizado em nossas cozinhas, impregna o ambiente. A camada espessa de talco continua no espaço, dificultando a movimentação do espectador, que caminhando chega ao final do corredor. Encontra uma vela. Uma vela descoberta.
Cildo Meireles transforma o espectador em sujeito ativo da ação.
Envolve fundamentalmente ideias, não tanto a criação de um objeto físico: por isso arte conceitual.
"A arte conceitual só é boa quando a ideia é boa".  Sol LeWitt
Marina Abramovic´. The artist is present (2010). MOMA.
Confere aqui:
Foi uma das exposições mais concorridas que o grande templo da arte moderna de Manhattan já havia apresentado.
O que impôs Marina Abramovic´, em particular, e a arte performática, em geral, à consciência do público? E por que tantas pessoas (inclusive celebridades) correram para ver sua mostra no MOMA?
Moda é um dos fatores. Hoje em dia a arte performática é bacana aos olhos da ponta de vanguarda do espectro do entretenimento. Björk, Lady Gaga, Antony Hegarty, Willem Dafoe e Cate Blanchett a citam todos como uma influência.
A arte performática deu a oportunidade aos museus de aumentar ainda mais o número de visitantes, apresentando uma nova concepção de entretenimento ao vivo.
Teatro participativo. Flash-mobs e festivais.
Happenings encenados no Black Mountain College, na Carolina do Norte, no início dos anos 1950. Foi do experimental à notoriedade.
 
4'33" de  John Cage. O pianista David Tudor passou 4'33" sentado a seu piano como um zumbi estupefato. Ele não moveu um músculo nem tocou uma tecla. Assistam aqui:
A obra, disse Cage, não era sobre o silêncio, era sobre a audição.
Para o artista Allan Kaprow, Jackson Pollock é que fora abençoado como verdadeiro gênio.
Allan Kaprow acrescentou uma infindável lista de materiais artísticos, inclusive cadeiras, comida, luzes elétricas e neon, fumaça, água, meias velhas, um cachorro e filmes. No futuro, disse, não será preciso dizer "sou um pintor" ou um "poeta" ou "um dançarino": simplesmente "sou um artista".

Performance 18 happenings em 6 partes (1959).
Todos os participantes (membros da plateia e artistas) receberam instruções específicas escritas por Kaprow num cartão que ele chamava de "partitura". Para acrescentar um elemento de acaso aos procedimentos, ele embaralhou os cartões antes de distribuí-los de modo que ninguém sabia de antemão o que seria solicitado a fazer.
As ações eram "situações saídas da vida real".
Johns e Rauschenberg faziam isso transformando mercadorias em arte; Kaprow obtinha um resultado semelhante transformando pessoas comuns em belas-artes.
" Uma caminhada pela 14th Street é mais assombrosa do que qualquer obra-prima da arte". Kaprow

Novo Realismo

Os novos realistas reclamam a criação de uma nova expressividade, à altura de uma outra realidade sócio-cultural, caracterizada pela hegemonia norte-americana no pós-guerra, pela máquina, pelas culturas de massa e informação, pela publicidade, pelos avanços tecnológicos que modificam o ambiente mais prosaico da vida cotidiana com os novos eletrodomésticos e, politicamente, pela realidade da guerra fria. Trata-se de religar a esfera da arte ao mundo baseando-se na introdução dos elementos do real nos trabalhos de arte.

Yves Klein (1928-62). Klein estava interessado no que chamava de "o vácuo" - o espaço infinito constituído pelo céu acima de nós e pelos mares, abaixo.




Yves Klein, Antropometrias (1960).

Convidou 3 modelos femininas, nuas, para se tornar "pincéis vivos", encharcando-se da tinta. As modelos tinham que apertar seus corpos nus empapados de IKB ( International Klein Blue) contra o quadro.

Lucio Fontana (1899-1968) aplicou uma lâmina de barbear às suas telas. Ele chamou isso de Espacialismo (Spazialismo), afirmando que representava a arte aproximando-se da ciência e da tecnologia. Suas telas fendidas - de que há muitas - têm o título Conceito espacial.
Ilusão de um profundo vácuo negro. Corte: conotações violentas, cirúrgicas e sexuais.

Conceito espacial: Espera
décollage: remoção de elementos
destruiu uma tela
ato de criação: ele fez uma obra de arte
objeto bidimensional em tridimensional
qualquer material de uma escultura
função da tela modificada: estamos espiando através dela

Arte Povera

Arte Povera que em italiano significa “arte pobre”. Foi um movimento artístico que teve sua origem na Itália da década de 1960. Pertencente a contracultura ganhou esse nome, pois os artistas criavam obras de arte utilizando materiais simples e sucatas.
Materias: graveto, trapos, jornal, e etc.
Tentar remover as barreiras entre diferentes gêneros artísticos.

Michelangelo Pistoletto (1933) foi membro fundador do movimento.
Esfera de jornais (1966). Fez uma experiência, levando uma gigantesca bola de um metro que fizera com jornais, para um passeio pelas ruas de Turim na companhia de membros variados do público, numa bizarra e divertida peça de arte performática intitulada Escultura ambulante (1967).


Michelangelo Pistoletto, Vênus dos trapos (1967).


 "reunir a beleza do passado e o desastre do presente"
Deusa idealizada da Antiguidade clássica X pilha de trapos modernos

Jannis Kounellis (n.1936)

Ele fazia arte com estrados de cama velhos, sacos de carvão, cabides de casaco, pedra, algodão, sacas de grão e até animais vivos.


Jannis Kounellis, Sem título (12 cavalos)(1969).

Ele estaria reagindo contra a comercialização da arte?

Fluxus

Menos que um estilo, um conjunto de procedimentos, um grupo específico ou uma coleção de objetos, o movimento fluxus traduz uma atitude diante do mundo, do fazer artístico e da cultura que se manifesta nas mais diversas formas de arte: música, dança, teatro, artes visuais, poesia, vídeo, fotografia e outras. Seu nascimento oficial está ligado ao Festival Internacional de Música Nova, em Wiesbaden, Alemanha, em 1962, e a George Maciunas (1931-1978), artista lituano radicado nos Estados Unidos, que batiza o movimento com uma palavra de origem latina, fluxus, que significa fluxo, movimento, escoamento.

Joseph Beuys, A matilha (1969).


Alcançou o status de Deus da arte em meio à vanguarda atual, que o considera um dos artistas mais importantes que emergiram na segunda metade do século XX.

Feltro. Gordura. Sobrevivência e uma impressão de crueza.

Beuys na 2ª Guerra Mundial foi salvo por um grupo de tártaros que lhe esfregou o corpo com gordura e o envolveu em feltro.

Numa de suas "ações" de arte performática chamada Eu gosto da América e a América gosta de mim (1974)(abaixo), Beuys se prendeu numa jaula por uma semana, tendo um coiote por única companhia. Muito estranho. Mas não tão estranho quanto a performance pela qual é mais prontamente lembrado: Como explicar pinturas a uma lebre morta (1965).

Beuys ficava sentado quieto numa cadeira num canto da Galerie Alfred Schmela em Düsseldorf. Tinha a cabeça besuntada com mel e uma boa quantidade de folhas de ouro e segurava nos braços uma lebre morta para a qual olhava fixamente. Após algum tempo ele se levantava e andava pela sala olhando para as pinturas na parede. Volta e meia erguia a lebre e lhe mostrava uma pintura, depois sussurava inaudivelmente em uma de suas orelhas. Por vezes parava e sentava-se  novamente, mas em momento algum se dirigia à plateia ou reconhecia sua presença. Isso prosseguia por três horas.
Amante dos animais, Beuys pensava que mesmo animais mortos têm "mais poderes de intuição que alguns seres humanos com sua teimosa racionalidade". A seu ver, a explicação de coisas a um animal morto "transmite uma sensação do sigilo do mundo".
Cut Piece (1964) de Yoko Ono ( n.1933), é uma obra alarmante e poderosa que demonstra, com consequências perturbadoras, como a plateia pode ser um elemento intrínseco numa obra de arte. Confere aqui: https://www.youtube.com/watch?v=lYJ3dPwa2tI

O vídeo expõe verdades sobre a natureza e as relações humanas, sobre agressores vítimas, sadismo e masoquismo, que poucas pinturas em que posso pensar são capazes de exprimir. 
Como em toda a arte performática, há uma narrativa: uma conversa provocada pela artista com a plateia, cujas ações são imprevisíveis e terão desfechos incognoscíveis. Se a arte existe para despertar nossos sentidos, para nos desafiar, nos ajudar a compreender, fazer-nos olhar novamente, então Cut Piece ("corte pedaços") de Ono é uma esplêndida obra de arte.

Sim, Yoko Ono é viúva de John Lennon.

Arte conceitual

Bruce Nauman (n.1941), em 1967, fez o vídeo Dança ou exercício sobre o perímetro de um quadrado ( Quadrilha), um filme de dez minutos de duração num loop contínuo. 
Nauman é o objeto que representa a humanidade: nunca aprendendo, nunca avançando; repetindo-se eternamente . O metrônomo marca a implacabilidade do tempo que dita nossas vidas. O ateliê é o espaço que o tempo e o objeto habitam. Nauman transformou sua ideia de filmar um movimento simples, corriqueiro -dar um passo para o lado-, numa intrigante obra de arte. A repetição é um componente importante - tem a ver com obsessões, com processo e, em última análise, com a condição humana. Confere o vídeo aqui:https://www.youtube.com/watch?v=IMSyhyvr0mw

O coletor ( 1990-92) é um filme de Francis Alÿs (n.1959) que o mostra arrastando um cachorro de brinquedo com rodinhas magnéticas por uma rua, coletando lâminas de metal, tachinhas e moedas enquanto avança. É uma obra de um arqueólogo em tempo real, estudando a cultura contemporânea mediante a coleta de artefatos e restos de nossas vidas movimentadas. Em Re-encenações (2000) ele entrou numa loja de armas na Cidade do México, comprou uma pistola Beretta 9 mm, carregou-a e saiu para um passeio pelas ruas segurando a arma na mão direita em plena vista do público. 
O objetivo da reencenação era realçar a natureza espúria dos documentários em geral, e daqueles que veiculam uma performance artística em particular. Alÿs está nos tornando cientes de que quando nos postamos na galeria assistindo as suas farsas surreais, ou assistimos a um documentário na televisão, há sempre um elemento de mediação, subjetividade e encenação envolvido.

Confere o vídeo de O coletor aqui:https://www.youtube.com/watch?v=x5qLHRdNSkk


Enquanto o artista radicado na Cidade do México faz filmes de reação de outras pessoas a seu trabalho, Richard Long faz fotografias de paisagens estéreis. Estas não têm o estilo de instantâneos jornalísticos, mas são eventos meticulosamente planejados e encenados. Quando tinha apenas 22 anos, Long fez uma obra chamada Uma linha feita ao caminhar ( 1967) quando voltava da escola de arte em Londres para casa. Ele abriu um caminho visível com suas pisadas, que em seguida fotografou.
Esse é um dos primeiros exemplos de land art, um ramo de arte conceitual que ganhou proeminência nos final dos anos 60 e início dos anos 70. 
Quebra-mar em espiral (1970), de Robert Smithson (1938-1973) - feita de rochas de basalto preto. A espiral no sentido anti-horário tem qualidades místicas e míticas; é antiga e moderna, abstrata e literal.

"O artista busca a ficção que a realidade irá mais cedo ou mais tarde imitar". 
Smithson morreu em 1973 num desastre de avião quando estava fotografando mais uma de suas land art.
A obra trata fundamentalmente da relação do homem com o seu meio ambiente e do modo como as estruturas à nossa volta afetam nosso comportamento. Ela mede 460 metros de comprimento por 4,6 metros de largura. 







domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pop Art: 1956-1970

Em 1947, Eduardo Paolozzi (1924-2005), então com 23 anos, foi a Paris seguir seu sonho de ser artista. Ali conheceu muitos expoentes da arte moderna, entre os quais Tristan Tzara, Alberto Giacometti e Georges Braque. Ele mergulhou nas ideias do dadaísmo e surrealismo.
Foi nesse ano que produziu Eu era o brinquedo de um ricaço (1947): uma colagem feita de imagens de revista de papel brilhoso que lhe haviam sido dadas por soldados norte-americanos que conhecera em Paris.

A colagem é tosca em todos os aspectos. A coleção de recortes de revistas e o cartão-postal estão colados com pouco senso de permanência, ao mesmo tempo que o tom do quadro é atrevido e cheio de sugestões sexuais.
Dentro da bolha de fumaça branca que emana da pistola está a palavra "POP!"- escrita em vermelho. A colagem tem todas as características distintivas do movimento que só seria oficialmente fundado uma década depois: tanto a revista maliciosa quanto a fonte no estilo de revista em quadrinhos que Paolozzi usou para a palavra "pop" apontam para o fascínio pela pop art entre os jovens e descolados, a cultura popular, o sexo fortuito e os meios de comunicação de massa.
Paolozzi identificou o poder da celebridade, das mercadorias de marca e da publicidade numa nova era de consumismo. Uma era em que tais deleites seriam o ópio das massas: a cocaína do capitalismo.

A colagem de Paolozzi encarnava o espírito fundamental da pop art: a crença de que alta e baixa cultura são uma só e mesma coisa, que imagens de revista e garrafas de bebida eram tão válidas como formas de arte para criticar a sociedade quanto as pinturas a óleo e as esculturas de bronze adquiridas e expostas pelos museus.

Eu era o brinquedo de um ricaço, de Paolozzi, foi uma das várias colagens que ele usou para ilustrar uma palestra que deu no Institute of Contemporary Arts (ICA), em Londres, em 1952. Ele intitulou a palestra "BOBAGEM!", citando uma frase dita por Henry Ford ao jornal Chicago Tribune : "A história é mais ou menos bobagem. É tradição. Nós não queremos tradição. Queremos viver no presente". É uma declaração que evoca o futurismo de Marinetti, e talvez por isso tivesse agitado o sangue italiano de Paolozzi. Ele não estava sozinho em seu fascínio pela cultura de consumo. Esse era um interesse compartilhado por alguns de seus amigos britânicos - um grupo muito unido de artistas, arquitetos e professores radicado em Londres que se tornou conhecido como Grupo Independente.


Richard Hamilton (1922-2011) contribuiu de maneira entusiástica para a exposição This is Tomorrow, montada em 1956 na Whitechapel Art Gallery, no leste de Londres, uma mostra que pretendeu olhar para a frente após a austeridade dos anos seguintes à guerra.

O que exatamente torna os lares de hoje tão  diferentes, tão atraentes? (1956)(abaixo) é uma colagem com recortes de revista num papelão. O casal da imagem está cercado pelas mais recentes comodidades domésticas: uma televisão, um aspirador de pó, presunto enlatado e um gravador de último tipo colocado no assoalho.


Hamilton expressou o otimismo da sociedade em relação a um futuro higt-tech. Um futuro em que todos (pelo menos no Ocidente) viveriam uma vida de abundância, facilitada por produtos modernos, e teriam tempo livre para usufruí-los. A vida estava se transformando de esforço árduo em leve entretenimento. O futuro seria preenchido com filmes e música pop, carros velozes, engenhocas práticas, comida enlatada e aparelhos de tv.

Hamilton definiu a cultura popular como: "Popular (destinada a um público de massa), Transitória (solução de curto prazo), Descartável (facilmente esquecida) , Barata (produzida em massa), Jovem (destinada à juventude), Espirituosa, Sexy, Atraente, Glamurosa e Muito Lucrativa".

A pop art era um movimento extremamente político, com aguda consciência dos demônios e armadilhas ocultos na sociedade que estava retratando. os artistas pop, como os impressionistas nos anos 1870, tinham olhado à sua volta e documentado o que viam. 

Os dois jovens norte-americanos sentiam que os expressionistas abstratos haviam perdido contato com a realidade. Haviam se envolvido demais consigo mesmos, abandonando temas reais em favor de pronunciamentos grandiosos de seus próprios sentimentos. Menos obcecados por si mesmos, Johns e Rauschenberg queriam refletir e discutir a realidade da monotonia da vida à sua volta, que era os Estados Unidos modernos nos anos 1950. A partir de seu ateliê em Nova York eles trabalharam juntos, compartilharam ideias e criticaram o que produziam. Foi uma parceria de dois artistas de mentalidades semelhantes que se ajudaram mutuamente a galgar novas alturas e desbravar novos territórios, cada um no próprio estilo. A obra produzida por Johns e Rauschenberg abriu caminho para Andy Warhol ( que comprou o desenho de uma lâmpada feito por Johns em 1961) e Roy Lichtenstein: os dois sumos sacerdotes da pop art norte-americana. Naquele estágio, porém - Nova York em meados da década de 50-, Rauschenberg e Johns eram conhecidos como neodadaístas. 


Bandeira (1954 -55) Jasper Johns




Feita a partir de pedaços de jornal e tela, pintada com o uso da antiga técnica da encáustica. Toda a superfície é a bandeira norte-americana, sem deixar margem ou moldura.
Johns está jogando um jogo mental, questionando se essa é de fato uma bandeira ou a pintura de uma. Afinal, se uma bandeira nada mais é que tecido a que foi acrescentada cor - não pode ser o próprio emblema dos Estados Unidos? 

Em que momento a arte se torna uma mercadoria e uma mercadoria se torna arte?

Suas pinturas nos obrigam a prestar atenção ao mundo em que vivemos. Sua arte, nesse aspecto, era voltada para fora, e a antítese das declarações audaciosas do expressionismo abstrato sobre nossos sentimentos íntimos.

Para Rauschenberg seu ponto de partida foram os readymades de Duchamp e o conceito de Merz de Schwitters - arte elevada feita a partir de cultura vulgar. O artista norte-americano percorria alguns quarteirões em torno de seu ateliê em Nova York à procura de objetos "achados"- sucata, fragmentos e curiosidades que pudesse transformar em expressão artística. Para ele a rua era uma paleta e o piso de seu ateliê, um cavalete. 

Monograma (1955-59).Rauschenberg



cabra: expressão de amor pelos animais
pneu: representa uma era nova, mais insensível. Rauschenberg morou perto de uma fábrica de pneus na sua infância
tinta aplicada na cabra: crítica aos expressionistas abstratos
manga da camisa: remete à infância de Rauschenberg, pois ele não tinha como comprar camisas novas
sola de sapato: caminhadas do artista
bola de tênis: esforço físico

Monograma é a sobreposição, agrupamento ou combinação de duas ou mais letras ou outros elementos gráficos para formar um símbolo.

Produziu também uma série de Pinturas brancas (1951)(abaixo)



Pinturas brancas (1951), que foi ao mesmo tempo uma troça ao expressionismo abstrato, uma mesura à famosa pintura suprematista Branco sobre branco (1918) de Malevich e uma exploração de "até onde é possível empurrar um objeto sem que ele perca por completo seu significado". As Pinturas brancas consistiam em telas retangulares ou quadradas idênticas uniformemente cobertas de tinta branca, penduradas uma junta da outra como soldados numa parada. Não pretendiam ser pinturas expressionistas carregadas de ansiedade, mas obras de arte que eram ativadas por incidente e acaso, como poeira pousando na tela, ou a sombra de alguém a contemplá-las, ou um raio de luz salpicando sua superfície.


Curadores e outros artistas deslocavam-se até as principais galerias de arte de Manhattan para ver as obras de Rauschenberg e Johns.

De Kooning era um dos artistas mais respeitados do mundo - uma pessoa cuja simples presença enchia todos de reverente admiração. Rauschenberg, em comparação, era um iniciante presunçoso: um ninguém. 

Rauschenberg foi até o ateliê do artista De Kooning e  pediu a ele um trabalho de que sentiria falta, e que fosse muito difícil de apagar. Rauschenberg labutou durante um mês, removendo os traços de De Kooning com uma borracha. Ele conseguiu. O objetivo do exercício não era um ato dadaísta de destruição, mas uma tentativa de encontrar uma maneira de incorporar um desenho em sua série toda branca.
O Desenho de De Kooning apagado (imagem abaixo), visto como uma das primeiras peças de arte performática, inspirou uma geração de artistas nos anos 1960. 
As Pinturas brancas estavam certamente na mente de Richard Hamilton quando ele foi convidado pelos Beatles para criar a capa para seu Álbum branco (1968): uma capa branca lisa, com o nome da banda estampado em relevo de maneira apenas visível.
E as Pinturas brancas funcionaram como um precursor do minimalismo, ao mesmo tempo, que deram ao compositor - e grande amigo de Rauschenberg - John Cage o ímpeto para escrever sua famosa peça de não música 4'33: quatro minutos e 33 segundos da experiência sonora que Cage disse preferir a todas as outras: silêncio.
Rauschenberg e Johns haviam decidido libertar a arte moderna norte-americana do controle inamistoso do expressionismo abstrato, e conseguiram. Suas imagens e apropriações da cultura popular deixaram de ser vistas como piada e começaram a ser levadas a sério.

O Desenho de De Kooning apagado (1953). Rauschenberg.





No final dos anos 50, Warhol ainda não tinha descoberto sua própria temática ou estilos sobre os quais construir sua carreira nas belas-artes.
Em Coca-Cola(1960) . Era subjetivo demais.


Andy seguindo as dicas de Irving Blum reconcebeu a obra Latas de sopa Campbell (1962) em uma unidade composta por 32 telas. A obra definiu a pop art e a obsessão primordial do movimento pela produção em massa e a cultura de consumo. A decisão de Warhol de não criar seu próprio estilo gráfico, mas imitar o das latas de sopa Campbell, tem uma dimensão social e política. Era uma censura duchampiana ao mundo das artes por elevar artistas ao papel de gênios onividentes, além de ser um comentário sobre o status diminuído dos trabalhadores individuais no mundo homogeneizado da produção em massa.


"Por trás da aparente ausência de alma do motivo repetido está a mão do artista, um indivíduo cuja tarefa é executar a obra. Assim como por trás da criação de uma lata de sopa Campbell estão os esforços de indivíduos desconhecidos e não devidamente reconhecidos".

O artista chinês Ai Weiwei estava propondo uma ideia semelhante na Tate Modern em 2010 quando encheu o cavernoso Turbine Hall da instituição com 100 milhões de semente de girassol de porcelana. O artista estava se referindo à vasta população chinesa e lembrando o mundo que seus compatriotas não são uma massa singular que pode ser irrefletidamente menosprezada, mas uma coleção de pessoas singulares com suas esperanças e necessidades.

Díptico de Marilyn (1962). O objetivo era eliminar sua mão por completo da execução da obra de arte, encontrar um efeito mais "linha de montagem", que ajudaria a fechar a brecha entre suas imagens, sua produção e aquelas que elas estavam imitando. A impressão por serigrafia fez isso e mais: permitiu a Warhol empregar as cores berrantes usadas na esfera comercial.


Num lado a imagem de Marilyn nunca envelhece - ela é jovem e linda, sensual e animada. Enquanto isso, no outro lado - no sótão, por assim dizer - há uma imagem de sua deteriorização de uma beleza de tela (de seda) para uma mulher fantasmal que perdeu seu esplendor. Sem dúvida ele havia transformado a atriz num produto, mas os fornecedores e consumidores da cultura pop tinham feito o mesmo.

Roy Lichtenstein se deparou com as HQ's em 1961. Nos anos 1960, os quadrinhos em cores usavam uma técnica de impressão chamada Ben-Day Dots. Ela se baseia nos mesmos princípios do pontilhismo de Georges Seurat. Isso economizava dinheiro. 
Davam-se conta da ironia de terem pago uma grande soma de dinheiro por uma cópia de um objeto sem valor e produzido em massa? Ou afluíam para comprar pinturas de Lichtenstein porque elas eram divertidas e alegravam uma sala?


Peter Blake (1932) criou o design da capa do álbum dos Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. As cores vivas, o humor irônico e a apropriação de imagens de celebridades das mais diversas esferas são todos característicos da pop art de Blake.


Claes Oldenburg (n.1929) se mudou para Nova York em meados dos anos 1950 e tornou-se atuante no cenário da arte de vanguarda. Em 1961 alugou um prédio no Lower East Side por um mês, no qual instalou A loja (1961). No fundo do prédio ele fabricava os "produtos" para seu empreendimento, que era uma loja varejista em pleno funcionamento, "aberta" na parte da frente do prédio. Oldenburg estocou sua loja com chapéus, vestidos, lingerie, camisa e os mais diversos artigos, inclusive bolos: tudo podia ser comprado.


Não eram feitos de algodão delicado, ou dos mais finos ingredientes, mas com tela de arame, estuque, musselina e pegajosos nacos de tinta. O artista pendurou suas mercadorias toscamente feitas no teto, empilhou-as contra a parede ou deixou-as soltas no meio da loja. O efeito foi tornar o lugar parecido com uma gruta de Satã: um lugar cheio de itens inúteis e ofensivos, enganosamente vendidos como objetos de desejo.

Ele fixou o preço de seus produtos, ou talvez eu devesse dizer "esculturas", da mesma forma que o comércio em geral. Um "vestido" podia ser adquirido por USS 349,99 e um bolo, por Uss 199,99.

Fez muito sucesso com curadores, colecionadores e artistas afluindo em massa à loja para ver e nem é preciso dizer - comprar.
Em 1962 fez uma escultura chamada Dois cheeseburgers com tudo (Hambúrguer dual). É mais uma peça quintessencial da pop art. É engraçada, é banal, eleva a junk food a arte elevada e é o epítome da cultura de consumo (observe que o pedido inclui as palavras "com tudo"). As ironias abundam, como o enorme tempo despendido para fazer algo que é consumido em segundos, e a escultura é tão bonita que dá vontade de comer, mas é feita de estuque e esmalte.
Como comida, é uma ilusão; a satisfação é garantida, mas no fim das contas inalcançável. Como obra de arte, porém, cumpre sua promessa de divertir e alimentar.


 A loja era um cenário teatral em que nossa interação com o que os curadores chamam de "ambiente" ou instalação faz de nós o jogador principal: a estrela do show.

Os happenings em que Oldenburg estava envolvido eram eventos marginais, muitas vezes anunciados como instalações, que tinham a sensibilidade pop art do aqui e agora e do efêmero. Confere aqui mais um vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=AxPtQKJOZzU

Kaprow (1927-2006) que disse a Roy, quando o artista pop estava indeciso quanto a explorar seu estilo Ben- Day, que "arte não precisa parecer arte para ser arte".