sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A fotografia como arte

A fotografia foi aceita como forma de arte pela primeira vez no início do século XX. O termo "pictorialismo" surgiu para descrever fotografias que simulavam o estilo das pinturas e que eram manipuladas pelo uso de foco brando e tons sépia, por exemplo. Fotógrafos americanos e europeus criaram sociedades para exibir suas obras e divulgar a fotografia como uma forma de arte que retratava a verdade e empregava o naturalismo. Um desses grupos foi o Camera Club de Nova York. O fotógrafo pioneiro Alfred Stieglitz (1864-1946) fez sua primeira exposição individual nas dependências do clube em 1899. Mas Stieglitz não ficou satisfeito, pois, naquela época, exposições de arte eram julgadas por pintores, e não por fotógrafos, e por isso ele decidiu montar uma exposição que fosse avaliada apenas por fotógrafos. Fundou um grupo chamado Photo-Secession e exibiu suas obras numa exposição no National Arts Club de Nova York em 1902, sendo aclamado pela crítica. Três anos mais tarde, ele inaugurou a Little Galleries do grupo Photo-Secession, junto com o colega fotógrafo Edward Steichen (1879-1973). O lugar ficou conhecido como "291", numa referência a seu número na Quinta Avenida. Numa atitude revolucionária, eles exibiram fotografias ao lado de pinturas e esculturas modernistas. Stieglitz promoveu a obra de Steichen e os dois se tornaram amigos.

Steichen também foi um pioneiro. Ele processou manualmente sua imagem do Edifício Flatiron de Nova York usando camadas de pigmento aplicadas sobre uma solução fotossensível de goma arábica e bicromato de potássio. Essa técnica resultou numa imagem colorida antes mesmo que a fotografia colorida fosse inventada, dando à imagem uma notável aparência de pintura. Tirada ao crepúsculo, a fotografia se assemelha a um quadro de Whistler, ao captar a luz indistinta e a atmosfera de sua localização à margem do rio. A composição faz uma referência às xilogravuras japonesas.


O edifício Flatiron, 1905. Foto: Edward Steichen
 

Stieglitz rompeu limites artísticos com sua fotografia The Steerage, que mostra passageiros de primeira e segunda classes num navio a vapor prestes a zarpar de Nova York para a Alemanha. A combinação do tema urbano, que ilustra a divisão entre ricos e pobres, e as formas angulares marca uma mudança do naturalismo do pictoralismo em direção ao cubismo.


The Steerage, 1907. Alfred Stieglitz.


Depois da Primeira Guerra Mundial, os artistas entraram no espírito prevalecente de celebração da mecanização e da velocidade. Em 1932, um grupo de fotógrafos fundou o f/64, cujo objetivo era desafiar o predomínio do pictorialismo. As fotografias mostravam detalhes sensíveis, belas formas orgânicas e de modo mais realista possível.


Toadstool, 1932. Foto: Edward Weston.


O surgimento de câmeras mais leves, na mesma década (1930), tornou possível que os fotógrafos fossem mais espontâneos, e levou o fotógrafo Henri Cartier-Bresson a registrar o instante em imagens como Atrás da estação St. Lazare.


Atrás da estação St. Lazare, 1932. Foto: Henri Cartier-Bresson.


Cartier-Bresson clicou o jovem pulando sobre uma poça atrás da estação e o capturou em pleno ar. A imagem tem uma agradável simetria, com a figura principal e as grades refletidas na água. O cartaz anunciando acrobatas na parte esquerda da imagem espelha o movimento do salto do jovem, ao passo que a escada e os anéis de metal em primeiro plano lembram os objetos que são usados em números cirsenses.
 
O fotojornalista Gyula Halasz, conhecido como Brassaï , também captou a atmosfera das ruas de Paris com imagens como Coluna Morris. Ela transmite o isolamento da vida noturna na cidade como um personagem solitário contra um fundo de meia-luz. Muitas das imagens de Brassaï foram tiradas enquanto ele caminhava pelas ruas de Montparnasse à noite, fotografando prostitutas, artistas e criminosos.


Coluna Morris, 1934. Foto: Brassaï


A fotografia de rua, como o estilo ficou conhecido, expandiu os limites da fotografia documental. O austríaco Usher Fellig, conhecido como Weegee, levou as lentes de sua câmera para dentro dos mais horríveis cenários para registrar criminosos, bêbados, brigas, acidentes de carro, incêndios e assassinatos à noite.


Weegee collection


Brassaï foi uma importante influência na obra do fotógrafo britânico Bill Brandt. Ele foi contratado pelo Departamento de Guerra para tirar fotografias dos britânicos durante a Depressão e os ataques alemães, e o resultado revolucionou a fotografia no país. Seu livro The English at home mostra o contraste marcante entre a vida prazerosa da aristocracia e o trabalho árduo dos operários. Posteriormente, Brandt se voltou para paisagens, retratos e nus, fazendo experiências com a luz e o contraste em suas fotografias. Sua série de nus publicada no livro Perspective of nudes foi impressa com seu característico estilo de alto contraste, sem tons medianos ou detalhes.

East Durham coal miner just home from the pit, 1937. Foto: Bill Brand


Nude London, 1952. Foto: Bill Brand.

 


Brandt era fotojornalista quando o gênero ainda estava nascendo. Foi a tecnologia das câmeras mais leves que deu origem ao fotojornalismo.
 
Durante a Grande Depressão, artistas de todos os tipos foram inspirados por temas sociais, e os fotógrafos não foram exceção. O grupo Photo League disponibilizou salas escuras de baixo custo e treinamento técnico, e muitos de seus membros ficaram famosos, entre eles Dorothea Lange. Suas emocionantes imagens das pessoas desempregadas e sem-teto, como Anjo branco na fila do pão, tornaram a crise econômica mais humana. Ela foi contratada pelo Departamento de Seguros Agrícolas, num projeto que durou de 1935 a 1944, para registrar as condições de vida dos agricultores e dos operários migrantes nas áreas rurais. Mãe migrante foi tirada em Nipomo, na Califórnia, e mostra uma trabalhadora pobre das fazendas de ervilha com dois filhos. O estilo de Lange, com atenção ao sofrimento individual sob a pressão da pobreza, definiu a época e influenciou gerações posteriores de fotógrafos documentais.
 


Mãe migrante, 1936. Foto: Dorothea Lange.

 
 
Revistas de moda, como a Vogue americana e a Harper's Bazaar,  tornaram-se cada vez mais populares a partir da década de 1930. Richard Avedon foi um dos primeiros fotógrafos de moda e revolucionou o setor dando às suas imagens emoção e movimento. A mistura entre fotografia de moda e arte era frequente. O fotógrafo britânico Sir Cecil Beaton é reverenciado por seus retratos inovadores e suas imagens graciosas. Suas composições em close e o uso de estátuas clássicas, tecidos brilhantes e pedaços de papel devem muito ao surrealismo de artistas como Salvador Dali e Man Ray.

Brigitte Bardot, 1959. Foto: Richard Avedon.

 

Marian Anderson, 1955. Foto: Richard Avedon.

Marilyn Monroe. Foto: Cecil Beaton.
Maria Callas, 1957. Foto: Cecil Beaton.

Fashion Photography, 1920. Foto: Cecil Beaton.

Famous Beauties Ball, 1931. Foto: Cecil Beaton.




 
A Segunda Guerra Mundial testemunhou a transformação de alguns fotojornalistas em fotógrafos de guerra. O húngaro Robert Capa teve seu batismo de fogo como fotógrafo de guerra durante a Guerra Civil Espanhola e ganhou fama com a imagem A morte do soldado legalista. A fotografia mostra um soldado caindo para trás depois de receber um tiro, e acredita-se que o registro foi o momento da sua morte. Por mais famosa que seja, a imagem é polêmica: há quem diga que ela foi encenada e que o soldado foi atingido por um tiro enquanto posava para a foto.
 
A morte do soldado legalista, 1936. Foto: Robert Capa.
 
 
Outro legado de Capa é a Agência Magnum, que ele fundou em 1947. A agência foi precursora da ideia de que os fotógrafos deveriam escolher seus próprios temas, e não serem responsáveis por cobrir histórias designadas por editores de imagem. Capa morreu com sua câmera na mão ao pisar numa mina terrestre em 1954, enquanto cobria a Primeira Guerra  da Indochina. A Agência Magnum continua a registrar os eventos mundiais e seu atual banco de imagens conta com mais de 600.000 fotografias.

Quer conferir o site da Agência Magnum? Então clica aqui: http://www.magnumphotos.com/
 

2 comentários:

Unknown disse...

Pena que você não fez do livro todo. Ajuda pra caramba não ter que ir toda hora no Google procurar as imagens.

Patricia Nunes disse...

Obrigada!