sábado, 21 de fevereiro de 2015

Surrealismo: 1924-45 Parte II

Joan Miró (1893-1983)

Carnaval de Arlequim (1924-25)


Apresenta vários elementos: formas biomórficas, as linhas onduladas e muito preto, vermelho, verde, e azul - tudo executado com o que parece ser uma ingenuidade infantil.
Breton descreveu o surrealismo como "automatismo psíquico em estado puro", querendo se referir à escrita ou à pintura feita de maneira espontânea, livre de qualquer associação consciente, ideias preconcebidas ou intenção específica.

Interpretação de O Carnaval de Arlequim:

Bola verde à direita: mundo a ser conquistado
escada com um olho e uma orelha pregados: alusão ao medo do artista de cair numa armadilha
triângulo preto na janela: torre Eiffel (cidade dos sonhos de Miró)
insetos, cores e formas: evocam as raízes espanholas do artista

Isso explica a falta de estrutura óbvia na pintura de Miró, embora ele de fato tenha planejado uma.

A arte de Miró é mais alucinatória que "onírica": seus quadros do começo da década de 1920 trazem as marcas das visões que experimentou em épocas de pobreza e fome. Suas complexas paisagens são habitadas por estranhos seres feitos de hastes e amebas. As cores fortes e as formas fantásticas também são típicas do estilo de Miró: Hirondelle Amour(abaixo) é uma de quatro pinturas preparatórias para tapeçarias produzidas durante o período que marcou seu retorno à pintura, após trabalhar em colagens e criações baseadas em obras-primas holandesas.

óleo sobre tela. MoMA, NY




Max Ernst (1891-1976), artista alemão que foi uma figura instrumental na emergência do surrealismo.

Célebes (1921)(abaixo)
óleo. Tate Gallery, London


O elefante cinzento de Ernst monopoliza a pintura, tomando a forma cilíndrica de uma caldeira antiquada ou de um aspirador de pó industrial.
As características mecânicas e físicas do animal lembram um tanque militar; a alusão é amplificada por sua localização, que parece ser um campo de aviação.
Ernst combinara objetos e ambientes desconexos a fim de produzir uma pintura perturbadora, dotada do espírito freudiano de uma associação livre "automática".
Ernst produziu muitas colagens depois de se mudar para Paris e desenvolveu as técnicas gráficas de "frottage"- friccionar objetos com o lápis para criar imagens - e "grottage" - espalhar tinta semisseca por toda a tela para revelar as marcas de objetos por baixo. Suas telas são habitadas por formas de vida inventadas e revelam também seu fascínio pelas aves, como em Monumento aos pássaros (1927)(abaixo).

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Em Floresta e pomba (1927) ele transformou uma fricção numa ameaçadora floresta escura.



René Magritte (1898-1967) adotou uma abordagem ligeiramente diferente das paisagens de sua vida onírica. Ele era tão convencional quanto Dalì era excêntrico, mas talvez habitasse um lugar ainda mais estranho: um mundo corriqueiro e trivial em que o ordinário é extraordinário - num mau sentido.

O assassino ameaçado (1927)(abaixo) é uma imagem macabra, inquietante, como o clima de um romance policial sueco.




Magritte aprendera que os cartazes publicitários mais eficazes baseiam-se em imagens que apelam para a ambição combinadas com ideias largamente aceitas. O corriqueiro e o inalcançável são os instrumentos do publicitário que, quando aplicados por um artista como Magritte, podem ser transformados em poderosas metáforas de seu "realismo mágico". Ele está nos dizendo que a vida é uma ilusão; nenhuma imagem é real - inclusive aquelas apresentadas por nosso vizinho do lado, supostamente normal.
Sua pintura de um cachimbo comum intitulado "Ceci n'est pas une pipe" (Isto não é um cachimbo; 1928-1929) instigava o observador a fazer a pergunta: "Se não é um cachimbo, o que é?" Magritte acreditava que o público deveria prestar atenção na realidade retratada, para desvendar dentro de si seus enigmas ocultos.




Para Magritte, a realidade diária era repleta de paradoxos e aberta a múltiplas interpretações. O pintor adotou esse tema em uma série de pinturas denominada Chave dos sonhos (1927)(abaixo), na qual ele retratou objetos não ambíguos sobre telas. Sob cada imagem ele pintou uma palavra que descrevia o objeto de maneira incorreta - por exemplo, a folha recebeu o nome de "a mesa" e bolsa, "o céu"- exceto pela quarta e última imagem, cujo nome está correto. É essa última imagem a que mais desconcerta o espectador, ressaltando o papel desempenhado pelo nome na maneira como a realidade visual é compreendida.




Os principais artistas que retratavam suas visões de sonho e pesadelo foram: Salvador Dali, René Magritte e Yves Tanguy, todos influenciados pela arte metafísica de Giorgio de Chirico surgida entre 1913 e 1920. Como a palavra "surreal" não existia na época, De Chirico chamava suas pinturas inesquecivelmente estranhas de "metafísicas".

Canção de amor (1914). Giorgio de Chirico(1888-1978)





Mistura de elementos heteróclitos de maneira fantástica inspira uma profunda sensação de solidão e mau pressentimento. As imagens estilizadas, a perspectiva ilógica e as sombras engendram um sentimento lúgubre acentuado pela ausência de pessoas.
A obra lembra as pinturas do pintor realista norte-americano Edward Hopper. Ele também tinha a capacidade de atrair o espectador para um mundo de melancolia e ruína, com imagens de figuras solitárias e expostas em ambientes isolados e abandonados.

Noctâmbulos (1942). Edward Hopper



Hopper começou a se interessar pelo surrealismo em 1936, após visitar uma exposição no MoMA chamada Arte Fantástica, Dadaísmo e Surrealismo.

"Finalmente me livrei do pegajoso meio da tinta, e agora trabalho diretamente com a própria luz ". Man Ray

Sua exploração tenaz do potencial pictórico da fotografia levou-o a uma técnica bastante diferente, mas igualmente poderosa, que chamou de rayograph, ou "raiografia". Era uma forma de fotograma (fotografia sem câmera) que ele descobriu em seu ateliê ao deixar cair por acidente uma folha não exposta de papel fotográfico numa bandeja de revelação em que já havia uma folha exposta. Ele descobriu que quando punha um item físico sobre o papel (chave, lápis, etc) e acendia a luz, o objeto imprimia uma versão negativa de si mesmo na folha fotográfica preta na forma de uma sombra branca fantasmal. Tinha-se a impressão de que ele havia tirado uma fotografia de um sonho.

Raiografias sem título




As raiografias foram chamadas, pelo artista, como "pinturas com luz".

Man Ray descobriu por meio de um incidente, quando o seu assistente e fotógrafo norte-americano Lee Miller acendeu a luz do ateliê escuro, os negativos foram arruinados. Mas, estavam arruinados de uma maneira artística.

Havia descoberto uma imagem em que a realidade passa pouco a pouco para um estado onírico.

O primado da matéria sobre o pensamento surrealista (1929)(abaixo)



O corpo e a cabeça da mulher têm bordas imprecisas, graças ao efeito da técnica de "solarização" descoberta por Man Ray.
Essa imagem lida com muitas das preocupações surrealistas: sexo, sonhos e combinações perturbadoras.





Guernica, 1937. Pablo Picasso



Embora Picasso não fizesse parte oficial do movimento surrealista, a obra está repleta de evidências dessa influência sobre o artista. Picasso combinou esses elementos surrealistas com suas próprias inovações cubistas para produzir uma insólita evocação de sofrimento.

A imagem do Minotauro - a criatura da mitologia grega, metade homem, metade touro - foi usada por Picasso muito antes de Guernica. Na primeira edição da revista surrealista Le Minotaure, publicada entre 1933 e 1939, Picasso produziu um módulo em desenho, encomendado pelos editores.


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